domingo, 14 de setembro de 2008

Gênese da personagem

Quando eu vim pra cá, minha intenção era falar com Antônio. Que Antônio me ouvisse. Mesmo sabendo que Antônio não fosse muito afeito aos assuntos de internet, embora adorasse conversas cifradas. Pensava que talvez descuidado, procurando alguma personagem de romance de cavalaria, na enciclopédia de caráter duvidoso google, pudesse chegar até aqui. Nunca tive notícias. Talvez ele já tenha passado por acaso por aqui, sem se deter. Talvez nunca passe. Imponderáveis...
Para o bem da verdade, só conhecia mesmo aqui a Lara, a Sofia e a Graça. Lara me divertia com suas imagens aleatórias, não queria impressionar ninguém e por isso mesmo, surpreendia. Acho que Lara nem tinha tantos amigos assim, por aqui. Vinha por vir. Para estar. Há tempos não a vejo aqui, acho que foi viajar. Um dia ela volta.
Sofia trabalha aqui, vem todo dia, e como não nos vemos com freqüência, apesar de nos gostarmos muito, aqui podemos dizer - como está tudo? Sofia é romântica e sempre traz poemas e auto-retratos. É bom vê-la e ouvir o que anda lendo-sentindo.
Antes de eu chegar, todos já estavam. Graça também vinha trabalhar e contar as novidades de sua empreitada laboriosa, mas gratificante. Graça não responde os recados. Fala quando quer e quando quer fala com amor. Graça merece ser feliz. Por isso eu torço.
Soube também que Pedro andava por essas bandas, talvez porque quisesse conversar com Liz ( Liz sabe das coisas, em profundo e secreto-místico), talvez Pedro não quisesse só falar com Liz, mas com outros que não conheço. Nunca tive coragem de me apresentar, embora sejamos amigos fora daqui. Os sentimentos de Pedro são radicais. Gosto dele.
Aos poucos fui tentando convencer outras pessoas a virem pra cá comungar comigo. Falhei nas duas tentativas. Ana, que está já bem acomodada em outro sítio, muito bonito por sinal, veio, vestiu uns óculos de sol e nunca mais voltou. Mariana também, uma vez tendo dado as caras, deixou um por-do-sol vagando nesse universo e simplesmente esqueceu a senha para voltar.
Thiago e Daniel foram uma surpresa boa de encontro. Aparecem esporadicamente, falam comigo. Pensamos parecido, estamos na resistência. Por aqui, sei que estão trilhando seu caminho e torço. Gosto de torcer por quem eu gosto.
Eu não sei desde quando Gabriel e Luana estão. Um dia quando eu ainda era outra, Gabriel falou gentilmente comigo e eu respondi, acredito que começou ali uma espécie de amizade. Foi quando de repente, já não compreendia o que ele falava, o que ninguém falava. Estive bem doente, fui-me embora, perdi aquele nome, aquele lugar. Daí, vim ser esta e uma vez aqui novamente, pude ver Luana ao longe, a namorada muito bonita de Gabriel, que parece ser uma moça forte e sensível. Mas o que aconteceu é que comecei a falar sozinha e algumas vezes, pensava que Gabriel pensava que eu estava falando com ele. Eu não estava. Estava falando com Antônio, com a possibilidade de Antônio me ouvir. Tudo ficou confuso.
Não sei porque ainda estou aqui. Sou aquela que sabe bem poucas coisas nessa vida. Sei que gosto de vir, de ver as pessoas, de ser para poucos. Se alguma imagem que escolho ou frase que penso ou copio puder tocar em alguém será bom. Ou então, que eu possa ao menos lapidar meu diálogo comigo mesma.
Hoje não sei mais, se gostaria de saber, caso Antônio acidentalmente passasse por aqui. Hoje não sei mais o nome de Antônio, seu rosto, desconheço. Não sei nem ao menos, se ainda falo com Antônio ou se Antônio se transformou em mim. Se fiz dele uma coisa minha sem correspondência com a realidade. Antônio é uma voz que soa ao longe, mas que não dói mais. Sua voz eu lembro, mas por aqui, as vozes nunca chegam.

(texto de uma amiga, que prefere ficar anônima, a respeito das relações e coexistências virtuais)

ps: e ela me disse que a Lara sou eu, lá no fotolog...

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